Perotá Chingó: viajando pelos ritmos da América Latina
Cultura

Perotá Chingó: viajando pelos ritmos latinos

Diversos estilos musicais do continente podem ser encontrados no som do grupo que se apresenta nos próximos dias no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo

em 28/10/2016 • 10h53
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Amor ao primeiro vídeo. Entre canto, violão e a linda paisagem uruguaia de Cabo Polônio, é quase impossível não se apaixonar por Perotá Chingó, que faz shows no Rio, Belo Horizonte e São Paulo nos próximos dias.

Ríe chinito / Se ríe y yo lloro / porque el chino ríe sin mí…“. Uma canção de ninar, gravada durante uma viagem, numa casual roda de música entre amigos se tornou um hit da internet e projetou esse grupo essencialmente latino-americano.

Às argentinas Dolores Aguirre e Julia Oritz − ou mais simplesmente Lola e Maju, as protagonistas do vídeo − logo se somaram o uruguaio Diego Cotelo (violão) e Martin Dacosta (percussão), nascido no Brasil e radicado na Argentina. O quinto elemento do grupo seria o responsável por capturar o sublime momento em Cabo Polônio, Pocho Álvarez, que atua na produção e comunicação da banda.

A surpreendente repercussão do primeiro vídeo nas redes sociais (hoje com quase 7,5 milhões de visualizações) fez com que a banda, que era um início de experimento musical, tomasse forma e ganhasse a estrada. Perotá Chingó, o nome até então escolhido ganhou uma página no Facebook e se expandiu pelas redes. “Começou a juntar um montão de gente, escrevendo e dizendo: venham para cá… indicando onde estavam. Entende? Não havia nenhum risco, já sabíamos onde estavam as pessoas que nos queriam escutar”, diz Lola em entrevista ao programa Diario Inédito.

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Assim, Perotá Chingó nasceu com os dois pés na estrada e alma na cooperação. “As redes sociais são um instrumento de autogestão. Mais do que uma turnê, fazemos uma viagem. Vemos por onde queremos viajar, e com um mês ou mês e meio antes começamos a organizar os encontros por meio do Facebook e do e-mail”, contava Pocho ao Diario Inédito. Assim, os próprios fãs dos locais costumam contribuir sugerindo e buscando lugares para tocarem ou se hospedarem.

Da viagem número zero, 'fundacional', no Uruguai em 2011, logo adentraram pela Argentina, a bordo da Chingona, uma van que leva o grupo. Depois, foram ao Brasil, Chile, México e Europa em suas viagens-turnês marcadas por shows intimistas com a casa cheia e registros em vídeos com o som despreocupado.

Viagem, então, é parte intrínseca da construção artística do Perotá Chingó. É a partir dela que o grupo vai fazendo sua composição musical, incorporando ritmos e recebendo novas influências para sua busca de uma música holística, definida em seu site como “uma viagem de intercâmbio musical e cultural por todo o Planeta”. “De repente ir ao Chile e conhecer a cueca [ritmo chileno] e Violeta Parra. Logo ir ao Brasil e conhecer o samba e o maracatu. Você vai se enchendo disso. (…) E aí começa a pesquisar os ritmos. Cada um de nós tinha um gosto pelo folclore latino-americano e na viagem isso se preencheu ao vê-lo ao vivo e senti-lo em cada lugar”, conta Julia ao portal Otro Mapa.

Ela considera o som do grupo como um “caleidoscópio de gêneros musicais”, se valendo desde ritmos andinos, brasileiros, até blues e gipsy jazz.

O primeiro disco, lançado em 2013, cristaliza todo o aprendizado colhido pelas estradas da América Latina. A abertura se dá com uma típica copla e uma valsa, ambas do norte argentino.

Além das diversas composições autorais, o grupo também fez releituras de canções como La Complicidad, do grupo porto-riquenho Cultura Profetica, e Jah Rastafari, do místico Shimshai. Aparecem também duas canções brasileiras: Alma não tem cor de André Abujamra, e finalizando a obra, uma versão quase sussurada de Oh Chuva, de Luis Carlinhos, sucesso do brasileiro já gravado em diversos ritmos por aqui.

Nos acordes delicados e na multiplicidade de vozes, também se encontram influências da chacarera e da zamba da argentina, do candombe uruguaio, do joropo da Venezuela, da música popular e folcórica Chile, algo de nosso samba, forró e outros ritmos brasileiríssimos, além de um toque de reggae e outras misturas.

Dolores diz que há uma necessidade das pessoas em rotular ou classificar a música que fazem, como indie, folk ou outra categoria. “Se você não define, outras pessoas definem. Então nos veio isso de nos classificar como ‘música viajera’ porque é o que fazíamos: viajar. E as músicas que íamos fazendo iam saindo das viagens, vão representando distintos lugares”.

Com essa simplicidade, o grupo foi construindo sua carreira, que nesse caso é realmente sinônimo de estrada. A música, invisível aos olhos e inescapável, transborda as fronteiras inventadas pela lei. Despretensiosamente, Perotá Chingó vem encantando pelo continente e além dele.

No finalzinho do famoso vídeo de Cabo Polônio, uma das vozes das meninas, diz, de forma espontânea e ligeiramente irônica: 'No esperabas algo tan lindo'. Talvez nem elas.

Na música e nas viagens, há sempre um som novo ou uma paisagem inesperada, há sempre algo mais para nos surpreender.

SERVIÇO:

Perotá Chingó toca neste sábado (29) no Rio de Janeiro, domingo (30) em Belo Horizonte, segunda (31) e terça-feira (01/10) em São Paulo.

Ouça o disco completo.

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