Amor ao primeiro vídeo. Entre canto, violão e a linda paisagem uruguaia de Cabo Polônio, é quase impossível não se apaixonar por Perotá Chingó, que faz shows no Rio, Belo Horizonte e São Paulo nos próximos dias.
“Ríe chinito / Se ríe y yo lloro / porque el chino ríe sin mí…“. Uma canção de ninar, gravada durante uma viagem, numa casual roda de música entre amigos se tornou um hit da internet e projetou esse grupo essencialmente latino-americano.
Às argentinas Dolores Aguirre e Julia Oritz − ou mais simplesmente Lola e Maju, as protagonistas do vídeo − logo se somaram o uruguaio Diego Cotelo (violão) e Martin Dacosta (percussão), nascido no Brasil e radicado na Argentina. O quinto elemento do grupo seria o responsável por capturar o sublime momento em Cabo Polônio, Pocho Álvarez, que atua na produção e comunicação da banda.
A surpreendente repercussão do primeiro vídeo nas redes sociais (hoje com quase 7,5 milhões de visualizações) fez com que a banda, que era um início de experimento musical, tomasse forma e ganhasse a estrada. Perotá Chingó, o nome até então escolhido ganhou uma página no Facebook e se expandiu pelas redes. “Começou a juntar um montão de gente, escrevendo e dizendo: venham para cá… indicando onde estavam. Entende? Não havia nenhum risco, já sabíamos onde estavam as pessoas que nos queriam escutar”, diz Lola em entrevista ao programa Diario Inédito.
Assim, Perotá Chingó nasceu com os dois pés na estrada e alma na cooperação. “As redes sociais são um instrumento de autogestão. Mais do que uma turnê, fazemos uma viagem. Vemos por onde queremos viajar, e com um mês ou mês e meio antes começamos a organizar os encontros por meio do Facebook e do e-mail”, contava Pocho ao Diario Inédito. Assim, os próprios fãs dos locais costumam contribuir sugerindo e buscando lugares para tocarem ou se hospedarem.
Da viagem número zero, 'fundacional', no Uruguai em 2011, logo adentraram pela Argentina, a bordo da Chingona, uma van que leva o grupo. Depois, foram ao Brasil, Chile, México e Europa em suas viagens-turnês marcadas por shows intimistas com a casa cheia e registros em vídeos com o som despreocupado.
Viagem, então, é parte intrínseca da construção artística do Perotá Chingó. É a partir dela que o grupo vai fazendo sua composição musical, incorporando ritmos e recebendo novas influências para sua busca de uma música holística, definida em seu site como “uma viagem de intercâmbio musical e cultural por todo o Planeta”. “De repente ir ao Chile e conhecer a cueca [ritmo chileno] e Violeta Parra. Logo ir ao Brasil e conhecer o samba e o maracatu. Você vai se enchendo disso. (…) E aí começa a pesquisar os ritmos. Cada um de nós tinha um gosto pelo folclore latino-americano e na viagem isso se preencheu ao vê-lo ao vivo e senti-lo em cada lugar”, conta Julia ao portal Otro Mapa.
Ela considera o som do grupo como um “caleidoscópio de gêneros musicais”, se valendo desde ritmos andinos, brasileiros, até blues e gipsy jazz.
O primeiro disco, lançado em 2013, cristaliza todo o aprendizado colhido pelas estradas da América Latina. A abertura se dá com uma típica copla e uma valsa, ambas do norte argentino.
Além das diversas composições autorais, o grupo também fez releituras de canções como La Complicidad, do grupo porto-riquenho Cultura Profetica, e Jah Rastafari, do místico Shimshai. Aparecem também duas canções brasileiras: Alma não tem cor de André Abujamra, e finalizando a obra, uma versão quase sussurada de Oh Chuva, de Luis Carlinhos, sucesso do brasileiro já gravado em diversos ritmos por aqui.
Nos acordes delicados e na multiplicidade de vozes, também se encontram influências da chacarera e da zamba da argentina, do candombe uruguaio, do joropo da Venezuela, da música popular e folcórica Chile, algo de nosso samba, forró e outros ritmos brasileiríssimos, além de um toque de reggae e outras misturas.
Dolores diz que há uma necessidade das pessoas em rotular ou classificar a música que fazem, como indie, folk ou outra categoria. “Se você não define, outras pessoas definem. Então nos veio isso de nos classificar como ‘música viajera’ porque é o que fazíamos: viajar. E as músicas que íamos fazendo iam saindo das viagens, vão representando distintos lugares”.
Com essa simplicidade, o grupo foi construindo sua carreira, que nesse caso é realmente sinônimo de estrada. A música, invisível aos olhos e inescapável, transborda as fronteiras inventadas pela lei. Despretensiosamente, Perotá Chingó vem encantando pelo continente e além dele.
No finalzinho do famoso vídeo de Cabo Polônio, uma das vozes das meninas, diz, de forma espontânea e ligeiramente irônica: 'No esperabas algo tan lindo'. Talvez nem elas.
Na música e nas viagens, há sempre um som novo ou uma paisagem inesperada, há sempre algo mais para nos surpreender.
SERVIÇO:
Perotá Chingó toca neste sábado (29) no Rio de Janeiro, domingo (30) em Belo Horizonte, segunda (31) e terça-feira (01/10) em São Paulo.
Ouça o disco completo.