Crise política brasileira gera reações nos países latinos
Análise

Crise política gera reações nos países latinos

Confira o que presidentes, líderes e organismos internacionais já falaram sobre a situação atual do Brasil

em 06/04/2016 • 00h10
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O aprofundamento da crise política pelo qual o Brasil passa, puxado pela possibilidade de a presidente Dilma Rousseff ser destituída do cargo via impeachment ou cassação da chapa eleitoral, está sendo acompanhado de perto pelo resto do mundo, principalmente pelos líderes da América Latina.

O nível de apoio recebido por Dilma varia ao longo do continente latino-americano, baseado na intensidade do alinhamento ideológico dos governantes com o Partido dos Trabalhadores (PT). A maior parte das reações ocorreu depois da suspensão da posse do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva como ministro-chefe da Casa Civil pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Entre os mandatários a expressarem forte solidariedade está o presidente da Bolívia, Evo Morales, que pediu no dia 19 de março ao presidente temporário da Unasul, Tabaré Vasquez, que também é presidente do Uruguai, a convocação de uma reunião de cúpula de emergência no Brasil para defender a presidente e Lula.

“Alguns presidentes da América do Sul deveriam fazer uma reunião de emergência da Unasul no Brasil para defender a democracia naquele país, para defender Dilma, para defender a paz, para defender o companheiro Lula e todos os trabalhadores”, disse Evo Morales em um ato público.

Além de Morales, os governos da Venezuela e do Equador também demonstraram que apoiam a presidente Dilma e defendem que o impeachment é o resultado de uma perseguição contra a esquerda da América Latina. Segundo o presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, a crise política no Brasil é produto de um “golpe de estado midiático e judicial”.

Para o presidente equatoriano Rafael Correa, a crise política brasileira faz parte de um “novo plano Condor” contra os governos de esquerda da América Latina. O plano Condor foi uma aliança das ditaduras militares da América Latina nas décadas de 1970 e 1980 para reprimir opositores dos regimes e eliminar líderes de esquerda nos países.

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Moderados

O Uruguai e a Argentina também apresentaram preocupação com o que está ocorrendo no Brasil, demonstrando apoio à Dilma, mas não na mesma intensidade que Bolívia, Venezuela e Equador, ao não classificarem como golpe o processo de impeachment.

“Fiel defensor do princípio de não intervenção nos assuntos internos de outros Estados, mas ao mesmo tempo respeitoso do Estado de Direito e dos valores democráticos, o Uruguai confia que as diferenças internas existentes no Brasil serão resolvidas no marco do regime democrático”, afirmou comunicado da chancelaria uruguaia, no dia 18 de março, manifestando “seu total respaldo à presidente Dilma Rousseff”.

A Argentina adotou uma abordagem protocolar em seus comunicados sobre a crise política brasileira, mas não menos preocupada que o resto do continente. Durante a visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a Buenos Aires, o presidente argentino Maurício Macri disse que o seu governo está “acompanhando de perto” o que está ocorrendo no Brasil e acredita que o país “vai sair fortalecido deste processo”.

A nova chanceler argentina, Susana Malcorra, disse que o governo Macri oferece “apoio institucional” para a presidente Dilma e espera que a questão seja resolvida “através dos canais institucionais”. “Rousseff foi eleita por um mecanismo democrático e só um mecanismo democrático, institucional, pode mudar isso”, afirmou em entrevista a uma rádio local de Belgrano, no dia 18.

Na tentativa de organizar uma reunião emergencial do Mercosul para tratar da crise no Brasil, travada pela dificuldade de encontrar uma data comum para que os chanceleres se encontrem, Malcorra defendeu no dia 22 de março que a reunião ocorra “mesmo que seja por meio de vídeo-conferência”. Ela alertou ainda que o Brasil possa ser “eventualmente” suspenso temporariamente do Mercosul caso a deposição de Dilma seja considerada ilegal pelo bloco.

Instituições e ex-presidentes

Além dos presidentes em exercício, ex-mandatários da América Latina demonstraram apoio à Dilma e Lula. No dia 11 de março, o Instituto Lula divulgou uma declaração assinada por 14 ex-chefes de estado, incluindo de países europeus, declarando apoio ao ex-presidente, afirmando que “preocupa a opinião democrática, no entanto, a tentativa de alguns setores de destruir a imagem deste grande brasileiro”.

“Lula não se considera nem está acima das leis. Mas tampouco pode ser objeto de injustificados ataques a sua integridade pessoal. Estamos com ele e seguros de que a verdade prevalecerá”, afirma trecho da carta assinada por Cristina Kirchner (antecessora de Maurício Macri), Ricardo Lagos, ex-presidente do Chile, e Maurício Funes, de El Salvador. Também assinaram a carta Fernando Lugo e Manuel Zelaya, ex-mandatários de Paraguai e Honduras, respectivamente, e que passaram por processos de deposição polêmicos.

“Os golpes hoje na América Latina são muito mais refinados, de laboratório, com aparência e disfarce de ser legal”, disse Lugo quando visitou Lula em São Paulo (após pedido de prisão preventiva pedida pelo Ministério Público, na denúncia que acusa o ex-presidente de ser dono de um triplex em Guarujá, litoral de São Paulo.

Entre as instituições internacionais que atuam na região, a Cepal (Comissão Econômica para América Latina e o Caribe) demonstrou “preocupação” com a estabilidade da democracia brasileira. Segundo a secretária-geral do organismo, Alicia Bárcena, Dilma está sendo atacada “sem julgamento ou evidência”, por meio de vazamentos e uma ofensiva midiática, além de esforços para minar sua autoridade e interromper o mandato conferido pelos cidadãos.

Para o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, o Brasil precisa garantir o mandato da presidente, a continuidade das investigações da Operação Lava Jato e o princípio de que todos são iguais perante a lei.

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