O Uber dos bancos
Análise

O Uber dos bancos

Com juros menores e menos burocracia, as fintechs avançam na América Latina e tiram o sono dos bancos; veja como aproveitar essa onda e gastar menos em empréstimos e no cartão de crédito

em 01/03/2016 • 23h25
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O Brasil é líder mundial em juros reais (descontada a inflação) e chega a ter tarifas bancárias de até R$ 21,90 para serviços prioritários (segundo o Procon-SP). Não é à toa que instituições financeiras estão sempre nas listas de empresas com mais demandas não solucionadas nos órgãos de defesa do consumidor. É nessa terra de muitas queixas, altos juros e pesadas taxas que surgem as fintechs, startups (empresas iniciantes de base tecnológica) focadas em serviços financeiros e de seguros – que prometem facilitar a vida de muita gente. Os bancos que se cuidem.

Semelhantes ao Uber, serviço de carona compartilhada que se mostra mais competitivo que os taxis em várias cidades do mundo, as fintechs atraem clientes com uma estrutura enxuta, operações feitas pelo celular, taxas menores, menos burocracia e atendimentos ágeis.

No Brasil, existem cerca de 160 empresas desse tipo, segundo Bruno Diniz, representante brasileiro da NextBank (organização sediada em Singapura que realiza eventos para fomentar o ecossistema fintech no mundo). Elas oferecem os mais diversos serviços e facilidades: cartões de crédito com juros equivalentes a menos da metade dos cobrados pelos bancos, concessão de empréstimos com menos garantias (e taxas menores) e, principalmente, novos serviços, como empréstimos entre pessoas físicas (veja abaixo lista completa dos serviços oferecidos).

Empreendedores do ramo e especialistas de tecnologia apontam que o crescimento das fintechs ocorre em toda a América Latina. No Brasil, como maior razão, os problemas de juros, tarifas e reclamações explicam isso.

O chileno Ramón Heredia, diretor-executivo da organização Digital Bank Latam, que promove concursos e intercâmbios para o desenvolvimento do setor, afirma que as fintechs começaram a prosperar na região há cerca de cinco anos, estimuladas pelo crescimento econômico, pelo fortalecimento de instituições no começo no século 21 e, ao mesmo tempo, pela falta de opções de serviços financeiros para a população jovem ou desbancarizada (sem contas bancárias).

“O mercado financeiro e de seguros tem crescido significativamente na região, no entanto, ainda há muita gente fora do sistema bancário. E há um novo tipo de usuário, mais digital e mais exigente, processando outros serviços. Os bancos tradicionais têm ficado atrás na resposta a estas tendências, portanto, empresas digitais ou de tecnologia estão ocupando esse espaço”, diz.

O público potencial é enorme: apenas no Brasil, há cerca de 55 milhões de pessoas sem conta em banco, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2014. Na América Latina, são cerca de 154 milhões de jovens com idade entre 18 e 30 anos, de acordo com estudo da operadora de cartões Visa.

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Será que as fintechs melhorarão os serviços bancários ou podem, um dia, vir a substituir os bancos? Os defensores das startups afirmam que em um futuro próximo os bancos tradicionais serão substituídos por essas novas empresas. Heredia diz que já há casos no mundo que justificam essa previsão.

“A Transferwise, no Reino Unido, permite transferências internacionais sem usar bancos. A Khipu, empresa chilena, desenvolveu um sistema simplificado de transferências bancárias eletrônicas. Outra empresa que está substituindo bancos é o chileno Cumplo, que permite empréstimos de pessoa para pessoa, sem a intermediação de uma instituição financeira tradicional”.

Mas Marcelo Nakagawa, diretor de empreendedorismo da FIAP (Faculdade de Informática e Administração Paulista) afirma que o sistema bancário ainda é muito regulamentado e o cliente ainda é muito conservador, o que torna difícil uma substituição dos bancos pelas startups. Ele considera mais realista uma interação entre bancos, seguradoras e fintechs, seja por meio de parcerias ou por meio de aquisições e fusões. “Organizações como Bradesco e Porto Seguro estão bastante atentas para o movimento das fintechs e estão se preparando para atuar em parcerias e investimentos nas startups”, lembra.

Um exemplo dessa atuação conjunta é a Nubank, que fez uma parceria com dois bancos médios brasileiros para oferecer um cartão de crédito da bandeira Mastercard com crédito rotativo de até 7,75% ao mês, menos da metade do que cobram bancos tradicionais. A companhia afirma ter uma lista de espera de 700 mil pessoas que solicitaram o cartão e aguardam análise de crédito.

Já a Bankfácil é uma plataforma digital de crédito e atua como um correspondente bancário de instituições financeiras tradicionais. Em um empréstimo, por exemplo, cuja garantia seja um imóvel quitado, as taxas de juros mensais são a partir de 1,05% (mais correção monetária, com prazo médio de contrato de 120 meses e podendo chegar a 320 meses). Em instituições financeiras tradicionais, a média da taxa de juros de empréstimo para pessoa física foi, em janeiro deste ano, de 7,67% ao mês, segundo a Anefac (associação dos executivos de finanças e contabilidade).

As fintechs podem ser organizadas em dois grandes grupos: informacionais e transacionais. As informacionais oferecem soluções que melhoram o acesso do usuário ou cliente às informações. Um exemplo brasileiro é o GuiaBolso que permite que o cliente de vários bancos unifique suas informações financeiras.

Já as transacionais costumam sofrer maiores limitações regulatórias, e oferecem produtos típicos de bancos, financeiras, seguradoras e corretoras de investimentos.

Um exemplo é o Biva, que oferece, no Brasil, serviços conhecidos como peer-to-peer lending, ou empréstimos entre pessoas, e as plataformas de pagamentos Clip.mx e Billpocket, que atuam no México. Também há casos de fintechs que fazem parceria com instituições financeiras, como a QueroQuitar, que, em parceria com o Bradesco, ajuda clientes a negociar e quitar suas dívidas.

A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) foi procurada e disse que não possui posicionamento institucional sobre o assunto da substituição dos bancos tradicionais por fintechs. O Banco Central informou que, no Brasil, as fintechs que mais diretamente atuam com serviços financeiros têm que obedecer à lei 12.865/2013.

CONHEÇA OS SERVIÇOS OFERECIDOS PELAS FINTECHS:

EMPRÉSTIMOS

Oferecem empréstimos e financiamentos, normalmente com juros menores do que aqueles praticados no mercado tradicional (e com menos burocracia). A BankFácil, por exemplo, cobra 1,05% ao mês em empréstimos para pessoa física (enquanto o juro médio em um banco é de cerca de 7,67%).

Brasil: Biva, Intoo, BankFácil, Lendico, Geru, Bom Crédito, Easy Crédito, Kitado, Simplic, Crédito Samba

Chile: Cumplo

Peru: Losmejorescreditos.com

INVESTIMENTOS

São oferecidos serviços para ajudar e orientar investidores de vários perfis. Essas empresas utilizam algoritmos para analisar constantemente os investimentos.

Brasil: Algoo, Bússola do Investidor, LiveCapital, SmarttBot, Órama, Monetar, Magnetis, Vérios

Colômbia: Club de trading

Chile: Finvox, FOL

Peru: Innovafunding

FUNDING

Permitem pessoas arrecadarem dinheiro para seus projetos.

Brasil: Catarse, Benfeitoria, ComeçAki, EuSócio, Startando, Kickante, Starmeup, Eqseed, Broota, Juntoscomvc

Chile: Tuvakita.com, Weeshing.com

Colômbia: Mesfix

GESTÃO FINANCEIRA

Trabalham oferecendo ferramentas de gestão financeira ou de gestão para negócios de pequenas e médias empresas.

Brasil: Nibo, ContabilOne, Conta Azul, Minhas Economias, Quanto Gastei, Mobilis, Gbolso, Organizze, Contasonline, Grana, Vaisobrar!, GuiaBolso

Colômbia: Usetime.co, Banco de Documentos, Artífice

Chile: Mettrik

SEGUROS

Oferecerem serviços como o de comparação de preços entre várias seguradoras que dão proteções para automóveis, saúde, odontológico, moto, residencial, viagem, celular e frotas. A contratação pode ser feita on-line e os atendimentos por chat, e-mail e telefone.

Brasil: Smartia, Sossego, EscolherSeguro, Bidu, ComparaOnline, TáCerto, Minuto Seguros

Chile: ComparaOnline

PAGAMENTOS

É o setor com mais competição e variedade. A maior parte das transações financeiras hoje já são feitas com o uso de cartões de crédito e débito, e dentro disso crescem os pagamentos feitos com smartphones ou outros aparelhos eletrônicos. É aí que as fintechs apareceram, por exemplo, para facilitar pequenos comerciantes a receber dinheiro eletrônico ou para criar opções de conciliação e de plataformas de crédito para consumidores, como a oferta de cartões de crédito em smartphones. A Nubank, por exemplo, tem um cartão de crédito com juros rotativos de 144,9 % ao ano (ante 415% em uma instituição tradicional).

Brasil: PayU, Pagseguro, Stone, Pagpop, b!cash, iZettle, Kiik, Piggo, Sum Up, Pag Com, MaxiPago!, Pagar.me, Tá pago, Paggcerto, Mundi Pagg, Moip, Payleven, Koin, Vindi, Iugu, Boleto Simples, Nubank, Controly, Picpay

Chile: Khipu, Blinking, BitNexo, Uanbai

México: Clip.mx, Billpocket

Argentina: DineroMail (também atua no Brasil, Chile e México)

Colômbia: Zyos.co, Verifíquese

BITCOIN

O “dinheiro virtual” ainda é pouco utilizado no mundo, mas quem usa já leva a sério a alternativa como forma de pagamento. As empresas oferecem serviços como de intermediação de compra e venda de moedas digitais.

Brasil: Pague Com Bitcoin, FoxBit, Bitcointoyou, Mercado Bitcoin, BitInvest, bitValor, Original My

ANALYCTICS / BIG DATA

Proporcionam proteções antifraude e de gerenciamento de riscos por meio de análise de dados. Os consumidores alvo dessas fintechs são na maioria das vezes as empresas

Brasil: FControl, Robocogs, Konduto, BigData Corp

Chile: Semantic Robot, CheckRocket

Fontes: empresas e especialistas

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