Conheça Janaína Lima, a vereadora da nova direita
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Conheça Janaína Lima, a vereadora da nova direita

Eleita em São Paulo pelo Partido Novo, a vereadora Janaína Lima, ex-líder do Movimento Vem Pra Rua, assume seu primeiro mandato e promete transparência na política

em 21/03/2017 • 14h25
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Câmara Municipal de São Paulo, sexto andar, sala 607. Na última porta à esquerda, no longo corredor, fica o gabinete de Janaína Lima, 36 anos, a primeira vereadora eleita pelo Partido Novo na capital paulista, com 19.425 votos. Fundado em 2011 por um grupo de 185 pessoas de dez Estados, sem experiência na política, o partido é um dos representantes da nova direita brasileira.

Janaína, que acaba de ingressar na gestão pública para exercer seu primeiro mandato, já ferveu como líder do Movimento Vem Pra Rua, onde ingressou em outubro de 2014, ao lado de Fernando Holiday (DEM), uma das lideranças do Movimento Brasil Livre (MBL) e que também foi eleito vereador em São Paulo, com 48.055 votos. Quando decidiu se candidatar a uma vaga na Câmara Municipal ela deixou o Vem Pra Rua, que levou milhares de brasileiros às ruas pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.

A vereadora afirma que já cumpriu em 100% os compromissos de campanha previstos para o primeiro mês. No primeiro dia de seu mandato cortou em 50% a verba de seu gabinete destinada ao pagamento de assessores e dispensou o carro oficial com motorista.  O dinheiro economizado ela quer que seja destinado para a educação. Por conta disso, protocolou o pedido junto ao prefeito João Doria Jr. e lançou um canal aberto para interação com os paulistanos, que podem lhe enviar sugestões e críticas pela internet, como havia prometido.

Em suas primeiras semanas no cargo, votou a favor do projeto de lei do vereador Adilson Amadeu (PTB) de combate à pichação, mas solicitou a retirada de artigos que impõem multa aos estabelecimentos que vendem tinta spray e não mantêm registro dos compradores, sem ter sido atendida.

“A prefeitura deve fiscalizar e atuar com medidas de preservação da cidade, aplicando penalidades aos pichadores e não aos comerciantes”, diz ela.

Formada em Direito e pós-graduada em Direito Público, Janaína faz parte da rede Nexus Brasil, ligada à ONU e foi escolhida como uma das jovens excepcionais pelo Global Shapers, uma iniciativa do Fórum Social Mundial. Mas embaixo de todo esse salto fino e vestido executivo de advogada, opção de look comum em dias de sessão plenária, existe uma infância e adolescência anônima atuante dentro da periferia de São Paulo. “Nasci num bairro chamado Jardim Irene que fica dentro do Distrito do Capão Redondo”, conta a vereadora.

Janaína afirma com ênfase e olhos arregalados que vem de uma família de mulheres muito fortes e sugere no discurso o termo “matricial”, onde a figura da mulher é o que importa.

Ao ser questionada se é feminista, diz que sonha e acredita em um mundo onde não será preciso falar sobre feminismo.

“Cidadão será cidadão independentemente de gênero, cor, raça ou credo. Mas entendo que apesar das inúmeras conquistas ainda há um longo caminho a ser percorrido”, avalia.

A nova vereadora não esconde que a mãe Lurdes Oliveira, até hoje uma líder comunitária na região do Capão Redondo, foi sua grande influência. Com apoio da prefeitura e igrejas locais para resolver a questão de creches, foi numa delas, quando tinha de três para quatro anos, que disse que seria advogada quando crescesse. “Uma das copeiras ouviu e disse: ‘domine o segredo das letras e nunca estará sozinha. Seja letrada minha filha’”.

Janaína conta que foi ali que começou seu processo de alfabetização, a partir do som das palavras. “Uma palavra muito comum no meu bairro era ALUGA-SE. Na periferia, ela é mais comum que VENDE-SE. Quando percebi que estava conseguindo ver e entender foi uma emoção grande para mim… [ela faz uma pausa e chora]. Quando me dei conta disso tive certeza no meu coração que seria advogada”, diz, ainda emocionada.

Janaína conta que ajudou na alfabetização de muitos amigos e começou a se tornar popular no bairro, escrevendo cartas para algumas famílias que tinham parentes distantes e sendo ‘office-girl’ de dona Lurdes. O pai Expedito Lima, motorista de ônibus que estudou até a 4ª série do Ensino Fundamental e enfrentou problemas com álcool, não conseguia entender o que estava acontecendo. “Não é muito comum uma criança de quatro anos fazer isso. Ele achava estranho e dizia que se eu tivesse aprontado ia me bater. Eu gostava muito de estudar à noite porque era o momento onde a casa estava tranquila. Muitas vezes ele saía para trabalhar de madrugada e eu estava acordada. Ele sempre ficava bravo comigo”, conta.

Ao falar sobre sua infância e adolescência, Janaína se emociona. Principalmente ao mencionar a dependência química de um irmão e o alcoolismo paterno. Para ela, a forte influência da mãe alavancou sua vontade de crescer e servir.

‘É isso que falta na política: você não se servir da política, mas servir a população. Eu trago o espírito de uma mãe e líder comunitária que muitas vezes deixava os seus filhos para socorrer as pessoas que mais precisavam’, diz Janaína.

Foi durante a adolescência que a vereadora deixou de ser a filha de dona Lurdes, que passou a ser conhecida como “a mãe de Janaína”. Aos 18 anos, com um amigo, liderou uma projeto de alfabetização de jovens e adultos. Paralelamente, desenvolveu  trabalhos de conscientização e prevenção às drogas, além de enfrentar a questão de violência contra a mulher no bairro. “Transformar sonhos em realidade sempre foi uma obstinação”, diz. “Quando chegou o período do vestibular era muito difícil porque eu não tinha condições de pagar a faculdade. Passei a minha adolescência inteira falando para as pessoas que elas tinham que acreditar em seus sonhos e eu não estava conseguindo realizar o meu”, revela.

Aprovada para o curso de Direito na PUC-SP, ela trabalhou dois anos para pagar um ano de faculdade. Concluiu o curso na  Faculdade Integrada Rio Branco, mantida pelo Rotary, onde ganhou uma bolsa de 50% que a ajudou a pagar as mensalidades.  Janaína conta que procurou estágio em um escritório de Advocacia na avenida Faria Lima, um dos endereços mais chiques de São Paulo. Entrou na área do Tributário, passou no exame da OAB e foi convidada pela chefe para ser sua sócia. Todos os dias fazia a rota Capão Redondo-Faria Lima-Capão Redondo.

“Quando voltava diariamente para casa era para dizer àquelas pessoas que eu tinha nascido no mesmo lugar, nas mesmas condições, mas que elas não deveriam ficar ali. Queria que sentissem o quão satisfatório é você lutar e realizar seus sonhos”, diz. “A partir do momento que o diploma veio para minha mão, percebi que a Lei não era esse instrumento de transformação social, econômica e  política que eu imaginava. Vi que a política é o verdadeiro instrumento de transformação da vida das pessoas”, analisa a vereadora, que acabou convidada pelo Governo do Estado para virar Subsecretária de Juventude.

Vereadora e mãe

Janaína conta que o filho João Pedro nasceu em maio de 2016 e foi seu cúmplice nas manifestações convocadas pelo Vem Pra Rua. Ainda grávida, ao ouvir o Hino Nacional, ela lembra que o bebê pulava feito louco em sua barriga. Para ela, ser mãe, esposa e vereadora mostra que a mulher pode ser o que quiser.

Apoiada pelo marido, que tirou férias para ajudar, levou o filho em todos os momentos políticos exigidos por sua agenda de candidata. Marketing ou não, saiu em fotos com o bebê no colo, trouxe ele dormindo para reuniões de comitês do partido, fez reuniões com pessoas influentes que a ajudariam na eleição e não abriu mão de amamentar e ser mãe durante a campanha, que diz ter sido feita basicamente pelo WhatsApp por conta do pouco tempo de período eleitoral. Começou com um grupo e foi se espalhando. Seu eleitorado foi de novos conhecidos e muitos amigos do movimento.

‘Algumas pessoas me perguntavam o que eu iria fazer com o bebê durante a campanha e eu sempre respondia: ‘se fosse o meu marido que contasse para você que ele tinha uma esposa grávida de 9 meses você estaria fazendo essa pergunta?’ Ele me fez entender que o verdadeiro papel a ser discutido na sociedade é o do homem’, afirma.

Janaína se diz a favor de muitos projetos que o atual prefeito defende, como o de concessões e privatizações. “Eu não acho certo que o dinheiro que deveria estar indo para a educação vá para os parques. Não que o parque seja mais ou menos importante. Mas a vaga na vaga na creche, os serviços sociais ajudam na dignidade das pessoas”, defende.

Um dos motivos que a levou para as fileiras do Partido Novo foi o alinhamento das ideias e conduta política, por ser uma agremiação que acredita nas pessoas e que foi construído por cidadãos comuns e não políticos. A candidatura foi feita às pressas, meio a contragosto, nas últimas horas permitidas, quando ela e dois amigos gravaram um vídeo e colocaram na internet suas propostas. Logo depois o partido lhe aplicou uma prova online de conhecimentos gerais e por fim uma entrevista. Janaína segue reafirmando que ainda sonha com uma proposta diferente de se fazer política. Que ela seja reinventada. E coloca também no cidadão a responsabilidade da construção dessa nova plataforma.

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