O isolamento latino-americano não é uma obra de ficção
Cultura

O isolamento latino-americano não é uma obra de ficção

Você seria capaz de citar de estalo o nome de pelo menos cinco artistas contemporâneos de países de língua espanhola sem pesquisar na internet? Shakira não vale...

em 03/06/2017 • 12h30
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Faça uma pesquisa rápida e peça a seus amigos e amigas mais próximos para citarem nomes de cinco artistas latino-americanos contemporâneos. Faça essa mesma pesquisa nas ruas de uma cidade qualquer do país ou em uma metrópole como São Paulo. Fácil? Difícil? E você, que lê este texto, quais seriam seus nomes?

Em um país continental como o Brasil, parece que há muito perdemos comunicação com a imensa América Latina. Nem as ruas, muito menos a imprensa ou a escola sabem dizer o “que é”, “quem é”, “como é” a América Latina. Además, todo cambia todo el tiempo!

Curioso seria fazer essas mesmas perguntas nas ruas da Colômbia ou nas escolas do Chile ou para os periodistas de El Salvador ou da Venezuela. Fora as raras exceções, a maioria está ocupada com questões internas e pouco tempo sobra para mirar os hermanos e cambiar com ellos y ellas.

Em termos de cobertura cultural, para ficar em um exemplo, a imprensa brasileira, com honrosas exceções, tem seu radar virado mais para os Estados Unidos e Europa do que para qualquer outro canto do mundo. E parece que isso não é exceção em outros países desse lado de cá.

O jornalista e escritor Wagner Merije não se contenta com isso. E mostra que seu olhar é latino-americano, mesmo quando esteve em Londres e lá trabalhou como colaborador da “Folha de S. Paulo”. Agora, com o lançamento do livro “Astros e Estrelas ˗ Memórias de um jovem jornalista em Londres”, traz ao conhecimento do público a história sobre uma invasão de artistas latino-americanos à cidade de Londres que marcou época e até hoje ecoa.

No capítulo “Experimentações Latinas”, o autor conta sobre os bastidores do programa “Corpus Delecti ˗ Sex, Food and Body Politics”, cujas atividades tomaram lugar no ICA (Institut of Contemporary Arts), um espaço charmoso e vanguardista instalado na entrada do Palácio de Buckingham. Bela oportunidade de mostrar o que somos, o que podemos, o que projetamos como “cultura latina” por meio das palavras, obras e presenças de artistas como Coco Fusco, Carmem Miranda, Denise Stoklos, Lotty Rosenfeld, Marta Minujin (foto acima) e César Martinez, entre outros. Sobre isso ele escreveu para o jornal “Folha de S.Paulo”, publicado no caderno Ilustrada com a manchete “Londres se transforma em sede para experimentações latinas”.

“Adorei fazer essa reportagem, por vários motivos. Descobri uma turma de artistas talentosos e orgulhosos, vindos de países como México, Chile, Cuba, Argentina, Porto Rico, Colômbia e Estados Unidos (descendentes de latinos). Os calorosos latinos não só têm muito para mostrar de sua arte, como a cria com seus corpos, literalmente. É realmente sexy (somos assim)! Mas não só!”, comenta Merije.

foto por: Nilson Hashizumi
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O escritor e jornalista Wagner Merije

Como destaca o jornalista e escritor Dennis de Oliveira, doutor em Ciências da Comunicação pela USP (Universidade de São Paulo), no prefácio do livro de Merije, “das cidades europeias, talvez somente Londres poderia ter uma noite de experimentações latinas como as narradas por Wagner Merije neste livro que conta suas aventuras artísticas orgasmáticas jornalísticas na capital britânica. (…) Por estas razões, Londres foi o palco ideal para as inquietas falas de um brasileiro, latino-americano e arte-jornalista como Merije furar, com um aríete de palavras, as regras da razão instrumental do Manual de Redação da Folha de S.Paulo”.

Faltam políticas públicas, vontade política e mais iniciativas de cunho cultural ou de mutirão de artistas. Daria um bom diálogo um evento reunindo os grafiteiros de Valparaíso com os de São Paulo.

Um intercâmbio de escritores desses países, com visitas a escolas, daria um vento de fôlego aos escritores e leitores. Também seria muito bacana ver as cartoneras argentinas espalhando a filosofia do livro reciclado pelas associações de catadoras de papel do Equador. Ou mesmo do Brasil. E que tal proporcionar aulas com os muralistas mexicanos para os jovens paraguaios? Ideias não faltam. Quão rica cada cultura é, quanto temos para conhecer e aprender!

Apesar de todas as barreiras, a contar a das línguas, os intercâmbios acontecem, de um jeito ou de outro. “Soube recentemente que graças a uma pergunta que fiz a Lotty Rosenfeld em Londres se desenvolveu sua obra “Empeño Latinoamericano”, sobre a globalização. A pergunta foi o gatilho, o ponto exato que abriu a brecha criativa”, revela Merije. “Saber que contribuí para a criação artística e a reflexão sobre um tema tão caro aos latinos e ao mundo me dá uma sensação rara e especial”, complementa.

A América Latina é uma potência adormecida. Tudo mudará no dia em que se ouvir pelas ruas de suas cidades o povo a dizer “América unida, jamais será vencida!” E nas escolas, ruas e na imprensa se ecoar os nomes de seus verdadeiros heróis e criadores.

SERVIÇO
“Astros e Estrelas ˗ Memórias de um jovem jornalista em Londres”
Autor: Wagner Merije
Editora: Aquarela Brasileira Livros
Preço: R$ 30,00
Encomendas: faleaquarela@gmail.com
Site: www.aquarelabrasileira.com.br/astros-e-estrelas-memorias-de-um-jovem-jornalista-em-londres
Lançamento mais próximo: 04/06/2017, domingo
Local: Famoso Bar do Justo – Rua Alferes Magalhães, 25 – Santana – São Paulo/SP
Horário: 15 às 17h
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Foto (divulgação): A artista argentina Marta Minujin

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