Por entre armas e guerrilhas
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Por entre armas e guerrilhas

O premiado fotógrafo Sebastian Castañeda retrata a realidade de Tumaco, a cidade mais violenta da Colômbia, dominada pelas FARC e pelo medo

em 24/11/2015 • 20h52
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San Andrés de Tumaco, no litoral do Pacífico colombiano, é uma das cidades mais violentas do mundo. Controlada por membros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), a cidade portuária, com 192 mil habitantes, vive uma rotina de assassinatos, torturas, sequestros, atentados terroristas, extorsões, estupros e esquartejamentos.

Dados processados pelo jornal El Tiempo mostram que, entre os municípios colombianos com mais de 100 mil habitantes, Tumaco foi a mais violenta do país no ano passado. Foram 147 assassinatos em 2014 -–uma taxa de 75 homicídios por 100 mil habitantes, índice superior ao de Cali (65 assassinatos por 100 mil habitantes). De acordo com a revista Forbes, a cidade mais violenta do mundo no ano passado foi San Pedro Sula, em Honduras, com 172 assassinatos por 100 mil habitantes.

“As Farc exercem controle sobre a vida de vários moradores de Tumaco, que são obrigados a guardar silêncio enquanto a guerrilha instala minas em seus campos, os expulsa de suas casas e mata seus vizinhos e entes queridos com impunidade”, declarou, em relatório, José Miguel Vivanco, diretor para as Américas do Human Rights Watch.

“E praticamente ninguém foi responsabilizado por estas atrocidades”. O relatório da Human Rights Watch revela que, das investigações sobre os mais de 1.300 homicídios ocorridos na cidade desde 2009, houve apenas sete condenados. Dos 314 casos investigados por abuso sexual, somente quatro foram punidos.

O fotógrafo peruano Sebastian Castañeda, que no ano passado ganhou o Prêmio de Excelência do concurso ‘Picture of the Year International’, visitou a cidade portuária em junho deste ano, em companhia de um amigo que trabalha no Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

“Passei nove dias en Tumaco, e o que mais me chamou a atenção é que é uma das cidades mais violentas e perigosas da América Latina. Em determinadas regiões, não entram jornalistas. Consegui fazê-lo porque estava com a Cruz Vermelha. Em Satinga, um bairro controlado pelas Farc e outros grupos armados, o pessoal da Cruz Vermelha nos impediu de sair para fazer fotos à noite por segurança e recomendação dos moradores locais”, disse à Calle2.

Em suas lentes, é possível ver o medo, o desespero, a pobreza, o abandono. “Na cidade, está presente todo o ciclo da cocaína, do plantio à exportação, passando pelo refino. E as Farc comandam esse ciclo.” Segundo ele, os grupos armados de Tumaco estão presentes como uma ameaça invisível. “Não se sabe quem é quem”.

Castañeda vive em Lima e já trabalhou em agências AP, AFP e no jornal El Comercio. Hoje, como fotógrafo independente, viaja o mundo atrás de boas histórias. Um de seus trabalhos mais duros foi na cobertura dos conflitos na Síria. “Fiquei muito impressionado com o Oriente Médio. Estive em Raqqa, antes de o Estado Islâmico domindar a cidade. Fiquei também muito chocado, no Iraque, com a situação dos refugiados na guerra contra o EI.”

No ano passado, foi a segunda vez que o peruano de 45 anos ganhou uma premiação no ‘Picture of the Year International’. Seu trabalho, todo em preto e branco, pode ser visto em seu site www.sebastiancastaneda.com.

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