Se essa ilha fosse minha...
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Se essa ilha fosse minha…

Bastimentos, pequeno povoado no arquipélago Bocas del Toro, no Panamá, é destino tranquilo no Caribe, onde as singelezas do dia a dia guardam grandes experiências

em 29/03/2016 • 23h30
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“Welcome to my paradise. And don’t worry, be happy”. Com sorriso generoso e o sotaque carregado pelo inglês creole, idioma comum em paragens caribenhas, um simpático morador cumprimenta os visitantes que chegam a Bastimentos, uma das quase 200 ilhas do arquipélago Bocas del Toro, na região Noroeste do Panamá.

Localizado a 32 quilômetros da fronteira com a Costa Rica, Bocas é um dos destinos mais visitados do país, o que não significa, contudo, que se trate de um grande e luxuoso complexo turístico como os muitos encontrados por estas bandas do Caribe.

Que o diga quem põe seus pés em Bastimentos, vilarejo habitado por cerca de 2 mil pessoas, sendo maior parte descendentes de jamaicanos que, no início do século 20, desembarcaram na região para trabalharem com cultivo de banana. Diferente de Bocas Town, principal cidade do arquipélago, na Isla Colón, Bastimentos tem cotidiano tranquilo, desenrolado no decorrer da única rua que liga a ilha de uma ponta a outra. Esta característica peculiar, somada à sua natureza exuberante (protegida, inclusive, pelo primeiro parque marinho nacional) oferece ao turista uma experiência inesquecível.

Chegar à ilha é fácil. Seja para quem vai de avião ou ônibus, partindo da capital, o destino será Bocas Town. De lá, tome um water taxi. Os pequenos barcos são disponibilizados o dia todo e, até mesmo, durante a noite, com preços que variam de 3 a 10 dólares, a depender da hora. Com poucas opções de hospedagem, incluindo um resort em uma das praias mais bonitas do lugar, a Red Frog, Bastimentos cultiva atmosfera tranquila, no que reside seu maior encanto.

As boas-vindas são dadas na única praça da vila, onde, durante todo o dia, desembarcam turistas, moradores e mercadorias para abastecer as poucas mercearias locais. Sempre povoada de barqueiros, ali à espera de gente interessada em passeios turísticos – a ida às ilhas Cayos Zapatilla, aliás, é imperdível – a pracinha é palco para as principais celebrações da vila. Caso das chamadas fiestas pátrias, comemoradas em todo o Panamá no início de novembro. Os preparativos para a festa incluem ensaios diários de percussão ao longo do mês de outubro.

Vivi e trabalhei como voluntária em um hostel da ilha por três semanas. Entre as idas e vindas por sua única rua, tive a certeza de que as grandes experiências de uma viagem, muitas vezes, estão nas singelezas do dia a dia. Algo como uma conversa com o senhor que vende frutas, legumes e pipocas na janela de sua casa. Ou de uma noite na qual se ganha 7 dólares em uma máquina caça-níqueis de um pequeno – e surreal – cassino de luzes fluorescentes.

Durante minhas caminhadas descobri, também, peculiaridades como um cinema caseiro idealizado por um casal de estrangeiros que, há mais de duas décadas, escolheu a ilha para viver. Todos os dias, ali são exibidos filmes dos mais variados gêneros, oferecidos ao público por 1 dólar, com direito a pipoca. Os de terror, dizem os donos, são os que mais mobilizam o público. Logo à frente do cine está o campo de beisebol, ponto de encontro certo aos finais de semana, quando os atletas locais comprovam que a modalidade esportiva é, de fato, uma paixão nacional.

Para um dia de praia, a melhor opção é seguir pela mata rumo a Wizard, a queridinha dos surfistas e de mais fácil acesso para quem quer caminhar. Ali, o visitante se depara com a típica paisagem caribenha mostrada em guias de viagem, num convite a horas de pura preguiça e deleite da natureza.

As opções de restaurantes são poucas, mas não deixam a desejar. Nas cozinhas, principalmente as comandadas por quem é da terra, não falta o aroma de coco a exalar das panelas. Do pão ao arroz, a fruta dá o toque inconfundível da costa caribenha, sendo uma das recordações de viagem das quais, seguramente, não se esquecerá tão facilmente.

Se tiver a oportunidade, não deixe de pedir ao cozinheiro para ver como se faz o leite de coco caseiro. Esteja certo que nunca mais vai se contentar em comprar as garrafinhas industrializadas que se encontram nos supermercados. Uma das principais figuras da cozinha local, Ketcha, do restaurante Alvim, tem gosto em mostrar arte de transformar o coco em tão apreciado ingrediente.

Diferente da vizinha Bocas, com seus badalados bares e hostels, Bastimentos tem as noites tranquilas. Ainda assim, para quem não abre mão de uma cerveja, regada aos mais altos decibéis de reggaton, bachata, salsa e reggae, a ilha sedia o Blue Bar, uma relíquia local com mais de 40 anos de existência. É lá que todos do povoado se encontram para fazer a resenha em dia. No salão, as mulheres dão mostras do swing caribenho, em passos capazes de surpreender até mesmo quem já é acostumado com as coreografias descontraídas e sensuais do funk brasileiro.

A possível goma no dia seguinte – nome dado à ressaca na América Central – pode ser curada com um banho de mar que, com sorte, vem acompanhado pelo desfile de golfinhos, arraias e tartarugas marinhas. Descanse na rede e relaxe. Não tenha dúvidas de que você está no lugar certo para isso.

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COMO CHEGAR

De avião

Em Bocas del Toro há um aeroporto doméstico, de onde chegam voos da capital panamenha e da Costa Rica. A Air Panama é a empresa que opera os voos domésticos. 

De ônibus

Há ônibus diários do terminal Albrook, na Cidade do Panamá. São cerca de 10 horas de viagem com destino a Almirante, de onde saem os barcos a Bocas Town. A passagem custa, em média, 28 dólares.

ONDE FICAR

Bubba´s House: Quartos compartilhados e privados a partir de 15 dólares. 

Palmar Tent Lodge: Acomodações a partir de 19 dólares.

Tio Tom´s Guesthouse: Quartos a partir de 48 dólares.

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