‘Se as drogas fossem regulamentadas, Pablo Escobar não teria existido’
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‘Se as drogas fossem regulamentadas, Pablo Escobar não teria existido’

Filho do narcotraficante mais famoso da história, Juan Pablo Escobar defende regularização das drogas como forma de reduzir poder do tráfico

em 06/05/2017 • 14h20
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“Se as drogas fossem regulamentadas, Pablo Escobar não teria existido e eu e você não estaríamos conversando. Ele até poderia ter se tornado um criminoso, mas não tão poderoso e destrutivo como ele foi. Tudo isso aconteceu porque existe a proibição das drogas”. Essa foi a conclusão do arquiteto e escritor Juan Pablo Escobar (que mudou seu nome para Juan Sebástian Marroquín), filho do narcotraficante colombiano Pablo Escobar, que vê o proibicionismo como uma fábrica de criminosos em série e de violência generalizada.

Juan afirma que vê os países da América Latina enfrentando problemas muito semelhantes com a mesma raiz: a falta de regularização das drogas. Ele evita usar o termo “legalização”, porque, em sua opinião, comprar drogas é como “comprar pizza na esquina”.

'Todos na América Latina têm as mesmas histórias de grande violência e corrupção, que são consequências naturais do proibicionismo. Precisamos regularizar o uso das drogas e não apenas legalizar, porque isso elas já são. Com facilidade, qualquer pessoa, até mesmo uma criança, tem acesso a todos os tipos de drogas.'

O debate sobre a descriminalização das drogas no Brasil segue a passos lentos e o processo que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal) deve demorar para voltar a ser discutido, uma vez que estava sob a responsabilidade do ex-ministro Teori Zavascki, morto em um acidente aéreo em janeiro deste ano.

• Leia a entrevista que fizemos com o ex-presidente Uruguaio Pepe Mujica, “O que fizemos foi legalizar a realidade” •

‎Enquanto nada é oficializado, as discussões seguem na sociedade entre aqueles que não admitem a ideia da descriminalização das drogas e aqueles que querem ter a liberdade de usá-las de forma recreativa ou como medicamento. Porém, enquanto discussões com laicidade duvidosa acontecem por toda a América Latina, o tráfico de drogas segue produzindo não apenas viciados, mas também grandes chefes do crime organizado e alimentando a violência, principalmente nos morros e periferias.

“Perdemos a luta contra o narcotráfico. A natureza do proibicionismo é dar poder econômico e militar às organizações criminosas que administram os negócios. Proibir é um ato de irresponsabilidade do Estado, que entrega aos delinquentes um grande negócio que os tornam muito ricos e poderosos”, afirmou em entrevista exclusiva à Calle2.

A falida guerra contra as drogas segue fazendo vítimas num ciclo vicioso e superlotado os presídios brasileiros. A alteração da Lei das Drogas, em 2006, que determinou a distinção entre usuários e traficantes e terminou por piorar o quadro do sistema carcerário. Juan afirma que os resultados falidos do proibicionismo e suas consequências em todos os setores da sociedade são visíveis e precisam ser resolvidos.

'O Estado deveria assumir a responsabilidade de controle do negócio e regularizar todas as substâncias, para que não se criem máfias e para poder educar as pessoas sobre o uso consciente. Isso é mais efetivo do que sair com tanques de guerra nas ruas, porque não importa se amanhã matem todos os narcotraficantes do planeta, porque, no dia seguinte, a droga continuará chegando a todos os destinos. Se quer violência, proíba, se quer paz, regularize.'

O filho de Pablo Escobar usa como exemplo a arrecadação bilionária de impostos do estado de Louisiana (Estados Unidos), que regularizou o uso da maconha para fins recreativos. Para Juan, na dúvida sobre se deve ou não regularizar as drogas, os países devem fazer uma análise.

“Esse dinheiro arrecadado de impostos com a regularização das drogas sempre estará disponível. Se proibirmos, deixaremos esse dinheiro para o crime organizado, se regularizarmos, esse dinheiro vai para a sociedade para fins pacíficos, como transformar a cultura do consumo de drogas. A pergunta é: na mão de quem você quer deixar esse dinheiro?”

FOTO: NATE LUIT

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