O berço da civilização Inca 2
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O berço da civilização Inca

A Ilha do Sol, no lago Titicaca (Bolívia), teria sido escolhida por filhos do Deus Sol para o povo Inca difundir sua cultura; conheça seus mistérios e encantos

em 02/06/2016 • 13h21
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Nas águas do Titicaca, o lago navegável mais alto do mundo (3.800 metros acima do nível do mar), a Isla del Sol é rota obrigatória para a maioria dos turistas que se destinam a esta parte da fronteira entre Bolívia e Peru, já que é considerada o berço da civilização Inca, segundo a lenda e o rico acervo arqueológico da região.

Ali, acredita-se terem chegado Manco Capac e Mama Ocllo, filhos do “Deus Sol”, em busca de um lugar apropriado para o povo Inca difundir sua cultura. Um paraíso enigmático que até hoje desperta indagações aos nativos e aos turistas. Os Incas dominaram a região entre os séculos XII e XVI, até a invasão espanhola.

A maneira mais fácil de se chegar à Isla del Sol é por Copacabana, uma pequena cidade − muito bonita também − no norte da Bolívia, a 155 km de La Paz. Lá, é necessário comprar um bilhete de barco, no próprio cais da cidade (custa entre 20 e 35 bolivianos, ou entre R$ 10 e R$ 20). Decida antecipadamente se você voltará no mesmo dia ou se pretende ficar pelo menos uma noite.

É possível percorrê-la somente em um dia, mas se quiser conhecê-la por completo, é necessário ficar um ou dois dias. Os barcos de ida partem durante a manhã (até 9hs) e os de volta até 15h30.

O melhor é planejar antes e não cometer o mesmo erro que eu de comprar o ticket de ida e volta do mesmo dia e acabar perdendo o barco da volta, simplesmente por ficar fascinado com a paisagem. O trajeto de barco até a Ilha do Sol demora cerca de duas horas.

O lado Norte da ilha é o mais ‘místico’ da região, onde estão o Museu do Ouro, a Pedra Sagrada, o Templo dos Incas e a Mesa de Sacrifício. Ao desembarcar no lado Norte, logo se encontram guias turísticos. Você pode até conhecer todos estes lugares sem um guia, mas para compreender toda magia e cultura da ilha é bom ir com um deles ou, como eu, chegar próximo aos grupos guiados, tirar algumas fotografias e escutar suas histórias incríveis. Eu gostei tanto de um dos guias que acabei lhe dando uma pequena contribuição do pouco que eu tinha.

As histórias são incríveis e podem até mesmo te assustar quando abordam os rituais Incas. Na Mesa de Sacrifício, por exemplo, eram servidos humanos e animais aos deuses Incas. Na maioria das vezes, sacrificavam e cortavam os órgãos das mulheres virgens e até mesmo de crianças recém-nascidas. Há mais de 1.528 anos acreditava-se que tanto as mulheres virgens como as crianças eram puras e por isso as ofereciam aos seus deuses.

A Roca Sagrada (Pedra Sagrada) é o lugar onde os Incas realizavam seus rituais de devoções e pedidos aos deuses. Dizem que, debaixo desta pedra, há muito ouro. Mas ninguém ousa tirá-lo de lá em respeito à lenda, ao povoado local e aos Incas.

Atualmente, ainda são celebrados rituais e cerimônias pelos sacerdotes Incas, mas sem sacrifícios. Outra atração muito visitada é a ruína do Templo dos Incas, construída de pedras – parece um labirinto com bases que recolhem água da chuva, onde os Incas se banhavam acreditando ser um presente dos deuses para purificá-los. Mas, até hoje, não se conhece em detalhes os métodos de corte e transporte de pedras, base de sua sofisticada arquitetura, tanto na região da Ilha do Sol como em diversas outras ocupações Incas espalhadas pelo centro-norte da América Latina.

Para se chegar ao lado Sul da ilha, é necessário percorrer um trajeto de cerca de três horas e meia entre subidas e descidas. O nível de “trecking” é fácil e, se conseguir apertar o passo, pode-se fazê-lo em duas horas. Mas com tanta paisagem deslumbrante pelo caminho é melhor curtir o percurso.

O único transporte de que você pode usufruir na ilha são suas próprias pernas, portanto, se você for fazer essa caminhada, leve água e algo para comer no caminho, uma câmera fotográfica para registrar as praias maravilhosas. Além disso, a caminhada é interessante para você conhecer a cultura dos nativos. São comunidades são muito tradicionais. A maioria não fala espanhol – falam os idiomas quéchua e aymara. Eles se dedicam basicamente ao cultivo, agropecuária, pesca, pastoreio e artesanato. Fique atento aos “pedágios” que os habitantes cobram para percorrer a trilha (nem sempre são cobrados, mas quando acontecem deve-se deixar de 5 a 15 bolivianos).

Ao chegar ao lado sul você vai estar na parte “comercial” da ilha. É ali que encontrará artesanato, hostels e restaurantes. Uma estadia de um dia em um hostel não passa de 25 bolivianos (cerca de R$ 13), mas na maioria deles o conforto é mínimo (muitos não têm ducha quente).

Se você possui uma barraca, é totalmente possível acampar em qualquer parte da Ilha sem gastar um centavo. Ah! Se prepare para o frio de manhã e à noite, assim como para o sol forte durante a tarde.

Nos restaurantes do lado sul, uma boa comida, bem servida, sai por uns 20 bolivianos (R$ 10) com um refrigerante incluso. Recomendo a trucha, que nada mais é que uma truta vinda das águas do lago Titicaca, mas com um sabor diferente e mais fresco do que as trutas que conhecemos.

Passe ao menos uma noite na ilha sagrada e contemple o pôr do sol em meio a paisagem deslumbrante que o arquipélago proporciona. A Ilha do Sol foi para mim um dos lugares mais mágicos e místicos que pude conhecer, onde não há meios de transporte, nem governo, nem polícia; apenas o povoado, seus pequenos vilarejos e animais. O silêncio impera como moldura destacada para as praias e os cenários paradisíacos. Lá, de braços abertos, é possível sentir toda a energia que emana a Ilha do Sol.

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