A corrupção da Odebrecht na América Latina
Análise

A corrupção da Odebrecht na América Latina

O ‘maior caso de suborno internacional da história’, segundo os EUA, envolveu pagamento de propinas em obras de infraestrutura em 9 países latinos; confira mapa elaborado pela Calle2

em 26/12/2016 • 17h30
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Ampliação e novas linhas do metrô, aquedutos, rodovias, termoelétricas, complexos petroquímicos e sistemas de tratamento de água. Grandes obras de infraestrutura executadas pela Odebrecht em nove países da América Latina foram realizadas com base em pagamento de propina – muitas vezes ao alto escalão político de cada país.

O esquema de corrupção da Odebrecht foi detalhado na semana passada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos. A empresa brasileira admitiu ter pago, entre 2001 e 2016, US$ 788 milhões em propinas a funcionários do governo, assessores e partidos políticos do Brasil e de outros 11 países (nove latinos e dois africanos). A Braskem (petroquímica controlada pela Odebrecht e pela Petrobras) teria alimentado o esquema de corrupção com outros US$ 250 milhões entre 2006 e 2014.

A Calle2 estudou o documento e elaborou um mapa com informações sobre a corrupção da empreiteira brasileira, o que inclui as obras que tiveram desvios (veja detalhes no mapa abaixo).

O Departamento de Justiça americano chegou a admitir que esse caso é “o maior caso de suborno internacional da história” ao anunciar os acordos de leniência da Odebrecht e da Braskem nos Estados Unidos. Também receberam propina Argentina, Colômbia, Angola, República Dominicana, Equador, Guatemala, México, Moçambique, Panamá, Peru e Venezuela.

Vários governos da América Latina já anunciaram que vão abrir ou reabrir investigações sobre propinas e benefícios que a construtora brasileira possa ter recebido no passado.

Segundo a Agência Reuters, o presidente peruano, Pedro Pablo Kuczynski, negou ter recebido dinheiro quando era presidente do Conselho de Ministros no governo de Alejandro Toledo (2001-2006) e disse ser favorável a uma investigação. De acordo com o El País, a corrupção no Peru envolveu os governos de Alejandro Toledo (2001-2006), Alan García (2006-2011) e Ollanta Humala (2011-2016).

Um líder da oposição venezuelana disse que a Odebrecht deve explicar os pagamentos em seu país, enquanto o Equador abriu uma investigação e o governo da Colômbia pediu ao escritório do procurador-geral para avançar nas análises dos contratos.

O chefe do Ministério Público da Guatemala também investiga os subornos da Odebrecht a um funcionário do governo, e o presidente Jimmy Morales disse que o governo verificará todos os contratos da Odebrecht.

O governo mexicano e a petrolífera Petróleos Mexicanos, a Pemex, disseram que reverão as alegações, mas Francisco Burquez, um senador da oposição, argumentou que as autoridades locais provavelmente não farão muito por causa da prevalência de corrupção no país.

O Escritório Anticorrupção da Argentina informou ter entrado em contato com procuradores e investigadores do Brasil para obter mais informações sobre 35 milhões de dólares em subornos pagos a funcionários argentinos entre 2007 e 2015.

O PROPINODUTO DA ODEBRECHT NA AMÉRICA LATINA

Brasil

Obras principais no país: Expansão da Estrada de Ferro Carajás (MA/PA), Terminal Portuário Embraport, em Santos (SP), expansão do Aeroporto de Goiânia (GO), reforma do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, Galeão (RJ); Estação Multimodal Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ), construção da Linha 6 – Laranja do Metrô de São Paulo e Arena Corinthians

Valor de propina pago (US$): 349 milhões

Valor estimado que a empresa recebeu em troca (US$): 1,9 bilhão

Argentina

Obras principais no país: Sistema de Tratamento de Água da Zona Norte de Buenos Aires e trem subterrâneo Soterramiento de Sarmiento, que liga Buenos Aires a Moreno

Valor de propina pago (US$): 35 milhões

Valor estimado que a empresa recebeu em troca (US$): 278 milhões

Peru

Obras principais no país: Trecho 2 da primeira linha do Metrô de Lima, projetos de Irrigação Olmos e Chavimochic e Central Hidrelétrica Chaglla

Valor de propina pago (US$): 29 milhões

Valor estimado que a empresa recebeu em troca (US$): 143 milhões

Equador

Obras principais no país: Aqueduto La Esperanza e poliduto Pascuales-Cuenca

Valor de propina pago (US$): 33,5 milhões

Valor estimado que a empresa recebeu em troca (US$): 116 milhões

Colômbia 

Obras principais no país: Rodovia Ruta del Sol e Corredor Transversal de Boyacá

Valor de propina pago (US$): 11 milhões

Valor estimado que a empresa recebeu em troca (US$): 50 milhões

Venezuela

Obras principais no país: Aeroporto Internacional Simón Bolívar, em Maiquetía, e sistemas integrais da Linha 5 do Metrô de Caracas e do Metrô de Caracas-Guarenas-Guatire

Valor de propina pago (US$): 98 milhões

Valor estimado que a empresa recebeu em troca (US$): não estimado

Panamá

Obras principais no país: Projeto Curundú, com 1.008 unidades habitacionais, um trecho de 45 km da Autopista Madden-Colón e a primeira fase do projeto de saneamento da capital

Valor de propina pago (US$): 59 milhões

Valor estimado que a empresa recebeu em troca (US$): 175 milhões

Guatemala

Obras principais no país: Rodovia CA 02

Valor de propina pago (US$): 18 milhões

Valor estimado que a empresa recebeu em troca (US$): 34 milhões

México

Obras principais no país: Complexo petroquímico em Coatzacoalcos, Veracruz

Valor de propina pago (US$): 10,5 milhões

Valor estimado que a empresa recebeu em troca (US$): 39 milhões

República Dominicana

Obras principais no país: Aquedutos Hermanas Mirabal e Samaná, Boulevard Turistico del Este (BTE) Circunvalación la Romana, e San Pedro-La Romana, Termoelétrica Punta Catalina e rodovia Piedra Blanca-Cruce de Ocoa

Valor de propina pago (US$): 92 milhões

Valor estimado que a empresa recebeu em troca (US$): 163 milhões

Fonte: Departamento de Justiça dos Estados Unidos

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